Absorvendo o Tabu: documentário que venceu o Oscar mostra precariedade menstrual na Índia
Absorvendo o Tabu: documentário que venceu o Oscar mostra precariedade menstrual na Índia
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A produção de 26 minutos foi a vencedora na categoria de melhor documentário curta-metragem no Oscar 2019. O prêmio chamou atenção pelo fato de de ser um filme falando sobre menstruação, tema constantemente silenciado e ainda cercado de informações equivocadas em várias partes do mundo. Nós separamos os pontos mais interessantes do documentário Absorvendo o Tabu e como ele pode nos ajudar a repensar a maneira como o mundo lida com a natureza feminina.
Precariedade menstrual: falta de dinheiro e acesso a absorventes prejudica a vida escolar de meninas ao redor do mundo
Você já imaginou ter que ficar 5 dias em casa sem ver ninguém apenas por estar menstruada? A ideia parece absurda, mas é a realidade de muitas meninas indianas. Aliás, a Índia é um dos países em que a saúde feminina é mais negligenciada e boa parte das mulheres não têm acesso a itens de higiene básica, sobretudo absorventes. Por conta disso, muitas acabam recorrendo a panos e tecidos velhos para evitar que o fluxo fique na calcinha e acabe manchando a roupa. O problema é que essa prática não é nada higiênica e pode levar a infecções vaginais e urinárias.
Foi para transformar essa realidade que um grupo de estudantes da Califórnia teve a ideia de criar uma máquina de fabricação de absorventes para distribuir às mulheres mais carentes. O documentário retrata a transformações que a instalação do equipamento traz na na região, como melhorar a questão da higiene feminina na aldeia e empoderar as moradoras a dar continuidade às suas atividade mesmo durante o período menstrual. A iniciativa tem ajudado outras meninas a enxergarem a menstruação sem constrangimento, insegurança e nojo.
Mas não é só na Índia que meninas e mulheres pobres sofrem com a precariedade menstrual. Em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, a falta de dinheiro impede o acesso à ítens de higiene pessoal. Segundo uma pesquisa feita pela Câmara de Vereadores do Rio de janeiro, meninas e mulheres perdem, em média, 45 dias de aulas ou de trabalho devido a falta de absorvente. Em regiões da África Oriental, algumas recorrem a folhas de árvores, jornais e até barro para absorver o sangue. Dessa forma, conseguimos ter noção de como menstruação também é uma questão social que envolve não apenas as mulheres, mas a sociedade no geral.
Tabus e mitos em torno da menstruação prejudicam a saúde das mulheres
Outra abordagem interessante no filme é como os tabus e a falta de informação sobre menstruação ainda oprime as mulheres de diferentes maneiras. Na Índia, muitas meninas param de estudar após a chegada da menstruação. Além disso, elas ainda são banidas de ir aos templos ou até mesmo rezar por estarem sangrando. Assim, de geração em geração, mulheres ao redor do mundo crescem e se desenvolvem com vergonha do próprio corpo, silenciando seus ciclos e sem entender o que realmente significa estar menstruada.
Por isso, é tão importante falar sobre educação menstrual. Evitar o assunto faz com que milhares de mulheres deixem de cuidar de sua saúde ou vejam a menstruação como doença e impedimento para realizar suas atividades. Você já deve ter escutado crenças de que não se deve andar descalça ou que é proibido lavar o cabelo durante o sangramento. Não há nenhum dado científico que comprove a veracidade dessas informações, mas mesmo assim, até hoje, pessoas deixam de fazer essas e muitas outras coisas por conta do período menstrual. Como vamos criar um olhar mais positivo sobre a menstruação quando o tempo todo escutamos pessoas dizendo que é algo ruim?
Quando falamos de educação menstrual falamos em quebrar barreiras com conhecimento e informação. É oferecer o direito de cada pessoa conhecer o funcionamento do próprio corpo e ajudá-las a criar consciência de si mesmas, sendo mais conscientes e confiantes.
Debate sobre a naturalização da menstruação também envolve os homens
Até hoje, muitos homens se sentem desconfortáveis apenas por escutar a palavra menstruação. Pela falta de informação, e empatia, eles acabam reproduzindo discursos preconceituosos, equivocados e até mesmo opressores sobre o assunto. No documentário, por exemplo, a maioria dos entrevistados do sexo masculino trata o sangue como sujo e nojento. Há também quem pense que o período menstrual é uma doença e não queira dormir na mesma cama que suas esposas. Em alguns lugares, o descarte de absorvente não pode ser feito em lixos comuns e os panos precisam ser queimados justamente para que os homens não corram o risco de encontrar vestígios de sangue menstrual.
Mas por que homens sentem tanta repulsa da menstruação? Historicamente, o fluxo sempre foi visto como algo impuro. Como eles não vivem fisicamente o processo de menstruar, não se sentem motivados a entender sobre o assunto. O problema é que os homens convivem com mulheres, que sangram e que, diariamente, precisam lidar com a ignorância e até preconceito vindos do outro lado. Não conseguimos quebrar os estigmas da menstruação apenas com uma parte da população, mas com todas.
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